Na sala de reuniões o celular vibrou. Puxou o objeto da bolsa e respirou ao visualizar a tela: "É ela", Camila pensou. Olhou para as pessoas sentadas a sua frente, pediu desculpas seguidas de um com licença e rapidamente percorreu os corredores da instituição onde trabalhava. Logo tratou de entrar no primeiro banheiro que viu, o banheiro da copa.
"Oi" disse tentando disfarçar o tom embargado.
"Oi", alguém disse do outro lado da linha.
Camila respirou profundamente tentando dizer algo e não conseguiu, seus olhos percorreram aquele cubículo em que ele estava, sentia o peito apertado e se perguntava se realmente deveria ter atendido a ligação (Ah, Camila, agora é tarde, você já atendeu).
"Camila?" a voz no aparelho lhe tirou do transe de sua própria mente.
"Oi, Júlia".
"Deixa pra lá, vai? De nada adianta esse papo de agora não dá. Você sabe que esse lance de um tempo nunca funcionou pra nós duas". A voz de Júlia era firme, mas ao mesmo tempo doce, um doce convidativo, daqueles que Camila adorava.
Camila queria correr para os braços dela, mas não podia, não dessa vez. "Não, Júlia. Não dá mais".
"Ok. Camila". O orgulho tomou conta de Júlia, mas ela precisava saber da garota que amava, não podia deixa-la ir assim. Sua voz ficou dura, mas as palavras eram de amor "Então, sempre que der mande um sinal de vida de onde estiver dessa vez, qualquer coisa que faça eu pensar que você está bem ou deitada nos braços de um outro qualquer".
"Então você acha que isso é melhor? Eu não vou ficar alimentando essa dor, Júlia. Chega, acabou".
"É isso mesmo que você quer Camila? E sim! É melhor do que sofrer de saudade de mim, como eu tô de você, pode crer. Que essa dor eu não quero pra ninguém no mundo, Imagina só pra você". Ela respirou profundamente e continuou. "Quero é te ver feliz, mesmo que seja nos braços de um outro qualquer, desde que te faça bem. Quero te ver dando volta no mundo, aproveitando a vida. E eu vou continuar rezando pra um dia você se encontrar e perceber que o que falta em você sou eu".
Camila sorriu com as últimas palavras da garota. "Você sabe que está sendo contraditória, né?".
Júlia sempre foi inteligente, tinha uma conexão forte com Camila ao ponto dela lhe mandar uma música e a garota focar justamente na parte que Camila gostaria. Uma completava os pensamentos da outra, intensas, dramáticas, dignas de um filme de oriental (os melhores).
"Sim, eu sei". Júlia respondeu. "Deixa o orgulho de lado, garota. Eu estou aqui, para".
"Não, Júlia. Chega. Eu não vou dar sinal de fumaça, acabou. Para. Vou desligar".
"Então diz, diz Camila, diz que você não me ama mais".
O silêncio se fez durante alguns minutos e ela sussurrou: "Eu não te amo mais".
As lágrimas escorreram sobre o rosto de Júlia, e mal sabia ela que durante o silêncio elas já escorriam sobre o rosto de Camila. "Aguenta firme", Camila pensava. Não queria demonstrar o choro, a fraqueza, a dor, a saudade e aquele amor querendo gritar: "Fica, eu te amo".
"Ok! Camila".
"Então é Adeus". Adeus, aquela palavra que Camila odiava, mas precisou fazer uso.
Júlia só conseguiu sussurrar: "Adeus". Nada mais, nada daquele sentimento que explodia em seu peito.
Antes de desligar Camila respondeu: "Vê se não morre, toma cuidado, mande notícias, seja um sinal de fumaça".
Júlia se viu no meio fio da rua entre lágrimas, dor, um vinho barato sobre os pés, o cigarro em uma mão e o telefone caído ao chão. Mas diante daquelas últimas palavras de Camila, ela sabia, sabia que aquele "eu não te amo mais" foi a frase mais falsa já pronunciada pela garota que ela amava.
E Camila? Ah... Camila enxugou o rosto, segurou as lágrimas, deu uma olhada no espelho e voltou para a reunião.
A noite elas estavam em camas separadas, mas seus travesseiros pareciam o mesmo, molhados, amassados, testemunhas do enterro de sentimentos fortes demais para serem vividos por garotas tão intensas, mas ainda pequenas.
3 anos depois o celular de Camila vibrou. na mensagem dizia: Estou bem e espero que você também esteja bem. Esse é o meu sinal de fumaça.
Ela discou o número, alguém atendeu. Era ela. A voz dela.
"Alô?"
"Esse é o meu sinal de fumaça"
"Oi". Aquele Oi não era um Oi qualquer, era um Oi seguido de um "Camila", e não demorou muito para que ele aparecesse.
"Oi, Camila". Júlia repetiu.
E elas continuavam pequenas, porque não percebiam que só seriam grande juntas.
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