Eu sempre fui adepta da frase: "As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem" de Chico Buarque. Porém, de uns dias pra cá eu comecei a refletir sobre mudanças, e passei a perceber que as coisas não são tão extremas assim, que entre o mudar e o não mudar existe um mundo inteiro de complexidade.
Imagine que você sempre cozinhou batatas com frango para determinada pessoa, durante 10 anos essa pessoa amava esse prato, inclusive o seu tempero. Pouco a pouco essa pessoa começa a se queixar desse prato, começa a colocar defeitos no seu tempero, nas batatas, no frango, até o dia em que ela decreta: "Esse não é mais o meu prato preferido, não gosto mais do seu tempero". O que essa mudança causaria em você? O que você cozinharia pra ela agora? Você mudaria para agradá-la? Mudaria para manter a harmonia? Entraria em um consenso? Como seria?
Agora imagine o contrário, é você quem não gosta mais daquele tempero, que não quer mais aquele prato. A outra pessoa questiona, diz que você sempre gostou daquilo, que durante 10 anos (o que não é pouco tempo) esse foi o seu prato preferido e que de repente não é mais. Você levanta o dedo indicador, coloca a mão na cintura e fala categoricamente: "Essa mudança não ocorreu do dia para o outro, foi pouco a pouco, eu enjoei, eu mudei".
Reflito sobre esses dois lados da moeda e penso o quanto as mudanças nos assustam, algumas são necessárias, são prazerosas, mas outras nem tanto. Existem milhares de mudanças que ocorrem delicadamente dia a após dia e nós só percebemos se pararmos para pensar, porém, tem aquelas que são tão intensas que só percebemos quando acontece o "bum" aquele dia em que a ficha realmente cai, nesse momento pensamos que foi de repente, o que nem sempre é, apenas demoramos para perceber.
Estamos tão acostumados com rotina que quando alguém diz que não gosta mais de determinada música, não curte mais aquele tempero, aquela posição na cama, o perfume que ela dizia adorar, é assustador. A gente se desorganiza, principalmente quando essa pessoa mudou e nós não mudamos. E agora? Aquela premissa de Chico Buarque anda vale? Huum...
Temos medo que algumas coisas mudem sim, estamos naquela bolha confortável, naquela sombra agradável e sermos colocados sobre o sol pode até não incomodar nos primeiros momentos, mas depois de um tempo a gente percebe e questiona: "Hey, quem me colocou aqui?".
A verdade é que, quando estamos em um relacionamento é preciso haver diálogo, consenso. Se o outro não gosta mais daquela música e você sim, isso não te impede de ouvi-la, se ela não gosta mais daquela posição e você sim, isso não impede vocês de fazer essa posição e tentar outras que agradem ambos. Talvez o difícil não seja a mudança, mas sim a forma com a qual lidamos com ela. Dizem que temos a mania de complicar tudo, quem sabe não seja verdade, não é mesmo? Algumas coisas são tão simples de se resolver entre vinho e macarronada, entre conversas e acordos... Mas sair da bolha é estressante, ainda mais quando alguém a fura e nos acorda daquele sono profundo chamado comodismo.
No fim, o importante entre ser o que cozinhava ou o que saboreava o prato é quantas vezes vocês trocaram de lugar? Quantas vezes vocês cozinharam juntos, saborearam juntos? Quantas vezes você sentaram para vivenciar a troca? Eis a questão.. A TROCA. Troca de pensamentos, de ideias, de mudanças, de coisas que aconteceram no dia a dia. Falta se perceber e perceber o outro... Falta troca.
Então, sobre "As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem", confesso que tenho medo de algumas mudanças, mas também tenho medo que algumas coisas nunca mudem, quero que outras permaneçam como estão, mas caso mudem, vou assim mesmo, com medo e tudo. Desculpa Chico, mas não acredito que você não tenha medo de algumas mudanças, às vezes elas podem ser assustadoras.
Mudanças... Até onde é bom? Estou tentando descobrir.
Então, sobre "As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem", confesso que tenho medo de algumas mudanças, mas também tenho medo que algumas coisas nunca mudem, quero que outras permaneçam como estão, mas caso mudem, vou assim mesmo, com medo e tudo. Desculpa Chico, mas não acredito que você não tenha medo de algumas mudanças, às vezes elas podem ser assustadoras.
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