segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Não podemos nos esquecer.



Miquésia.

Como algumas pessoas se esqueceram facilmente de você, não é mesmo? Elas passam todos os dias por aquele caminho nebuloso com cheiro de morte e ainda assim não se recordam de você. Não sei se isso faz diferença, mas eu não te esqueci. Eu lembro de você não apenas quando passo por ali, lembro de você todos os dias, em diversos horários e lugares. Você não me conhece, e talvez eu nunca possa ter a oportunidade de trocar uma simples palavra com você, mas é fato que você está diariamente em meus pensamentos, que mesmo sem te conhecer, quando você fez aquilo levou um pouco de mim e deixou um pouco de você comigo. Podia ser eu ali, mas foi nós! 
Eu queria ter chegado minutos antes, ter olhado pro céu e ter te percebido ali, ali tão perto de se jogar daquele prédio monstruoso. Eu teria gritado, entrado e corrido até você. Não teríamos espaço para apresentações, mas eu pegaria na tua mão e falaria que o ato em si não iria te salvar da dor, não iria amenizar nada. Eu te daria mil e uma razões para viver, eu choraria com você, te puxaria dali, não soltaria a tua mão por nada, mesmo que isso implicasse em cairmos juntas.
 Tua mão pequena naquele chão, eu lembro dela desfalecida, lembro do seu corpo pequenino, da sua cabeça cheia de sangue, do quanto as pessoas foram cruéis tirando fotos, do quanto você demorou a sair dali e ser cuidada. Me desculpe por não ter feito nada! Eu queria ter salvado você!  Me desculpe por não ter conseguido chegar antes, por não ter te percebido por entre a multidão, por ajudar na perpetuação de um mundo sem afeto, de uma universidade sem amor. 
Sabe, eu ainda escuto piadas sobre o prédio, ainda escuto as pessoas brincando: "Vou me jogar do CFCH"; "Ah, tá mal? Se joga do CFCH"... Elas não sabem o que falam, não são como nós que vimos a morte de perto. Peço desculpas por elas também. 
Eu não sei qual era a tua angústia, mas a imagino todos os dias. Eu não sei o que passava pela sua cabeça na hora, mas cogito quais eram os teus pensamentos. Não sei quantos minutos durou a queda, dizem que tudo acontece muito rápido, mas eu duvido que você não tenha sentido nada, duvido que um filme não tenha passado pela sua cabeça. Me desculpe por imaginar momentos tão dolorosos, eu só não consigo parar de pensar. 
Dizem que somos programados pra cair. Talvez isso seja verdade, mas eu duvido que aquela era a sua hora de cair, eu queria estar lá para não ter permitido isso. Eu queria tantas coisas, coisas que talvez te fizessem estar viva hoje. Eu queria ter te conhecido, ter te percebido, ter salvo você. Eu sinto muito. 




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